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O mar para atravessar, o Universo para descobrir, as pirâmides para medir. Tudo existia menos a trigonometria. Construíram-se triângulos, mediram-se ângulos, fizeram-se cálculos e quem sonharia que à Lua se iria? Flor, fruto... Sucessão da natureza. Dois, quatro... Sucessão de Matemática. Quem gosta de Matemática tem de gostar da Natureza. Quem gosta da Natureza aprenderá a gostar da Matemática. O chá arrefece com o tempo, as plantas florescem com o tempo, a Matemática aprende-se com o tempo, a vida vive-se com o tempo. O que é que não é função do tempo? Eram formas tão perfeitas, que na Matemática já tinham uma equação. A sua beleza e harmonia levaram-nos do plano para o espaço e também ao nosso dia-a-dia. Quanto tempo gastou Arquimedes para desenhar retângulos cada vez de menor base, até chegar à área de uma curva? Arquimedes, Arquimedes, que paciência a tua. mas mostraste ao mundo que a Matemática ensina não a dizer: não sei mas a dizer: ainda não sei. Trigonometria, Álgebra e Geometria, tudo junto para complicar. Mas as relações são tão interessantes que até dá gosto estudar. Matemática para que serves? Para dar força e auto-confiança.

Pesquisas Educacionais

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Pedro Nunes: a Maldição da Matemática Pura

Por ANA MACHADO

V centenário do seu nascimento

No ano em que se comemoram os 500 anos do nascimento daquele que é tido como um dos mais brilhante matemáticos do século XVI, multiplicam-se palestras e homenagens. Mas a maldição da matemática pura arrastou a figura do cosmógrafo-mor do Rei D. João III para o canto mais esquecido da cultura portuguesa. A matemática não é um valor da nossa cultura, acusam os especialistas.

As comemorações do quinto centenário do matemático Pedro Nunes, nascido em 1502 em Alcácer-do Sal, poderão servir para levantar muitos fantasmas sobre a importância da sua obra. A história identificou-o com os Descobrimentos portugueses, para o que contribui o facto de ter sido cosmógrafo-mor de D. João III e professor dos infantes D. Luís e D. Henrique, o futuro cardeal-rei. Mas a verdade é que Pedro Nunes foi essencialmente um matemático puro cujo pensamento, quase sempre meramente teórico mas brilhante, pouco ou nada foi aproveitado pelos pilotos que levaram as naus pelo mundo.

Quem é Pedro Nunes quando a figura do mentor das técnicas de marear quinhentistas cai por terra? E que lugar ocupa na cultura portuguesa? "Pedro Nunes marcou um lugar na história da cultura portuguesa apenas porque foi um dos maiores matemáticos do século XVI. E se tal, só por si, não valer, então é porque a matemática não pertence de todo à nossa cultura", defende Henrique Leitão, físico teórico, coordenador da obra de Pedro Nunes para a Academia de Ciências.

Anabela Cruzeiro, da Sociedade Portuguesa de Matemática, investigadora, defende que o problema é que a matemática é mal amada entre nós, ao contrário do que se passa noutros países: "É preciso fazer escola e que haja discípulos, é essa tradição que falta em Portugal. Pedro Nunes é um dos poucos bons matemáticos que temos, apesar de também não ter deixado discípulos. Pelos vistos essa parte já é cultural e muito antiga", confessa.

Pouco se sabe sobre Pedro Nunes, sobre a sua formação, sobre a sua origem e percurso de vida. E só conhecemos hoje a sua terra natal, Alcácer do Sal, porque a sua assinatura mais comum, Pedro Nunes Salaciense, denunciou a origem do génio da Salácia, antiga denominação de Alcácer do Sal. O facto do seu espólio ter sido desprezado pela família e a sua obra se encontrar espalhada pelo mundo, na sua maioria em mãos de coleccionadores privados, contribui muito para esse desconhecimento. No entanto, a sua importância como matemático dificilmente escaparia à história da ciência, uma vez que são raras as obras de matemáticos europeus do século XVI que não referem o brilhante matemático Pedro Nunes e não o tomam como referência incontornável, muitas vezes ampliando as suas teorias ou confrontando-as com novos factos.

Até ao fim do ano, a Sociedade Portuguesa de Matemática e departamentos de matemática de universidades por todo o país, numa iniciativa nacional promovida pelo Ministério da Ciência e da Tecnologia e pela Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica - Ciência Viva, tentam esclarecer o verdadeiro papel de Pedro Nunes na cultura portuguesa e europeia do século XVI através de palestras, mesas redondas, exposições e publicações de artigos de investigadores sobre um dos nomes de maior referência na história da matemática portuguesa e europeia.

Teorias para os Descobrimentos

Identificado pela história como um dos protagonistas da epopeia dos Descobrimentos portugueses, para a qual teria contribuído com vários tratados náuticos e até com instrumentos de navegação, como o nónio ou o anel náutico, o facto é que o pensamento matemático purista de Pedro Nunes tornou a sua obra pouco acessível aos pilotos portugueses e, hoje, os estudiosos de Pedro Nunes afirmam que a influência nos Descobrimentos deste génio dos princípios teóricos matemáticos foi pouca ou mesmo nenhuma.

O facto de ter sido cosmógrafo-mor do rei D. João III e das suas vindas a Lisboa, de acordo com registos históricos, ocorrerem quase sempre na Primavera, altura marcada para as partidas das naus, reforçam muito essa relação com os Descobrimentos, que na verdade é bem mais ténue do que muitos acreditam.

Mesmo o nónio e as linhas de rumo, ou curvas loxodrómicas, não passaram, naquela altura, de princípios teóricos. As equações da náutica matemática, ou especulativa, que inaugurou, não foram nunca aproveitadas pelos pilotos das naus que quase sempre careciam de conhecimento matemático suficiente para as aplicar. Pedro Nunes não foi, decididamente um homem da prática de marear, apesar de uma das suas obras mais célebres, o "Tratado da Esfera", incluir dois dos tratados náuticos mais célebres da história náutica. "Pedro Nunes dava preferência a ideias geniais, mesmo que não servissem na prática. Era essencialmente um matemático. As comemorações só valem a pena se percebermos isto", conclui Henrique Leitão.

A Paixão pela Essência dos Números

Do pouco que se sabe sobre a vida do matemático, fica a paixão pela álgebra, geometria e aritmética registada nas obras de autores seus contemporâneos

São mais as dúvidas que as certezas sobre a vida de Pedro Nunes, mas é incontestável que o matemático viveu e morreu apaixonado pelos números. Formado em universidades de Portugal e Espanha, pouco se sabe sobre a sua origem ou família. Mas o valor da sua obra matemática ficou gravada nos manuscritos dos mais célebres matemáticos europeus quinhentistas, que não se cansaram de referir a sua obra. E, entre nós, a imagem de Pedro Nunes fica-se pela cara das antigas moedas de cem escudos.

Nascido em Alcácer do Sal, pensa-se que a origem de Pedro Nunes, Petrus Nonnios Salaciensis, seja judaica. Os seus netos foram interrogados pela inquisição, o que é um forte indício, mas a sua educação não terá sido judaica, ou pelo menos a sua obra não o indica. Pelo contrário, os seus manuscritos testemunhavam a fé cristã, como se pode ver na dedicatória de "De Crepusculis", considerada a sua obra-prima.

Acredita-se que tenha aprendido as primeiras letras em Portugal, tal como o latim. Depois, continuou os estudos em Salamanca, Espanha, não se sabe a partir de que idade, talvez muito cedo, antes dos 20. Algumas das suas obras, como o "Libro de Algebra", foram redigidas em castelhano, mas incluíam muitos lusismos, ou termos portugueses.

Em Salamanca, centro do mundo do conhecimento científico, e onde estudaram nomes como Garcia da Orta, completou o bacharelato em medicina. Mas foram as chamadas disciplinas de artes, tais como a astrologia (entenda-se astronomia), aritmética e geometria, que também frequentou naquela universidade, que o levaram a receber o convite para ser cosmógrafo do reino, já de volta a Portugal, quando tinha apenas 27 anos. Foi também em Salamanca que acabou por casar, em 1923, com D. Guiomar Árias, filha de um castelhano.

Regressado a Portugal, Pedro Nunes ingressa no ensino, na Universidade de Lisboa, onde leccionou filosofia e algumas das chamadas disciplinas de artes. Mas o desânimo de não se poder entregar de corpo e alma à sua ciência de eleição, a matemática, leva-o a renunciar à Universidade de Lisboa e a aceitar um convite para Coimbra, onde finalmente poderia ensinar a ciência que mais apreciava e em que acabaria por se notabilizar. A substitui-lo, em Lisboa, no ensino das matemáticas, pensa-se, ficou Garcia da Orta.

A fama que entretanto vai ganhando faz com que seja requisitado para ensinar os infantes D. Luís, primeiro, e depois D. Henrique, o futuro cardeal-rei, por ordem do Rei D. João III, tarefa que acumula com a cátedra de matemática em Coimbra e com a realização de algumas obras escritas que, então, recebem autorização real para serem publicadas. Continua também a revisão e tradução de obras de outros autores quinhentistas europeus de renome.

As suas teorias sobre a náutica, explícitas nas suas obras, nomeadamente no "Tratado da Esfera", fazem com que seja muitas vezes consultado sobre o assunto. Além disso, as suas aparições em Lisboa começam a coincidir com a Primavera, altura em que ocorria a partida das naus que partiam para os Descobrimentos. Mas, dizem os especialistas em história da ciência, a náutica matemática ou especulativa que inaugurou, e os novos instrumentos de navegação que descreveu (pouco se sabe se algum terá chegado a ser construído ou não), eram de uma sabedoria quase inacessível aos pilotos que acabaram por nunca usar os conhecimentos expostos pelo matemático.

O facto das suas teorias nunca terem sido aplicadas pelos pilotos náuticos e de ter publicado a sua primeira obra de notabilidade, "O Tratado da Esfera", já com 35 anos - considerada uma idade já avançada para a produtividade científica -, levou muitos a desconfiar do seu valor real enquanto matemático. As dúvidas acabam por ser esclarecidas nos livros dos maiores matemáticos quinhentistas, tal como o britânico John Dee, que enaltecem e copiam as suas teorias.

E se maior prova fosse necessária, um episódio que aconteceu em 1577, um ano antes da sua morte, serviria como tal. Já viúvo, Pedro Nunes, recebeu um convite do Papa Gregório XIII para que desse a sua opinião sobre a reforma do calendário juliano. Nenhuma resposta chegou a Roma. Apenas um registo oral, feito no leito de morte, em que Nunes terá dito que qualquer calendário teria sempre erros. Uma constatação que continua válida.

Gregório XIII mandou então recolher todo o espólio de Pedro Nunes, numa busca derradeira de alguma referência do matemático ao calendário. Nada foi encontrado e o espólio foi entregue à família, que o delapidou. Hoje, a obra de Pedro Nunes encontra-se espalhada por todo o mundo, a maioria em colecções privadas, e os seus manuscritos, cobiçados pelos leiloeiros, valem dezenas de milhares de euros. Em Portugal, que se saiba, não existe nenhuma obra manuscrita de Pedro Nunes.

Ana Machado

1502 - Segundo um breve apontamento autobiográfico na obra "In Theoricas Planetarum" de 1566, nasce na antiga Salácia, actual Alcácer do Sal

1517 - Inicia estudos universitários

1522 - Estuda na Universidade de Salamanca onde recebe o grau de bacharel médico

1523 - Casa-se aos 21 anos com D. Guiomar de Árias (ou Aires), filha de Pedro Fernando Árias, castelhano, natural de Salamanca. Do casamento nascem quatro filhos: Apolónio, Pedro, Isabel e Guiomar

1525 - Volta a Portugal, a convite de D. João, para leccionar na Universidade de Lisboa

1529 - É nomeado cosmógrafo do reino com apenas 27 anos

1531 - É chamado a dar aulas ao infante D. Henrique, o futuro cardeal-rei

1532 - Completa a licenciatura em Medicina na Universidade de Lisboa, recebendo o grau de doutor na capela do Hospital Real, apesar de ser já lente da Universidade na cátedra de lógica

1537 - Recebe permissão do Rei para dar à estampa o "Tratado da esfera", uma das suas obras mais famosas onde expõe dois dos tratados náuticos mais conhecidos da sua obra: o "Tratado sobre certas dúvidas de navegação" e o "Tratado em defensam da carta de marear", onde estavam incluídas as curvas loxodrómicas, a sua primeira descoberta

1542 - Publica aquela que é considerada a sua obra prima, enquanto matemático puro, o "De crepusculis", ou "Tratado sobre os crepúsculos"

1544 - Depois de ter sido substituído em Lisboa, é chamado para leccionar em Coimbra a cátedra de matemática, local onde permanece até 1562

1547 - É nomeado cosmógrafo-mor do reino

1555 - É eleito para proceder à reforma dos Estudos Universitários juntamente com Baltazar de Faria

1557 - Morre D. João III

1562 - Jubila-se como lente de matemática, na Universidade de Coimbra

1566 - Publica apenas em Basileia o "Petri Nonni Salaciensis Opera", uma ampliação do seu "Tratado da Esfera"

1567 - Publica o "Libro de Algebra"

1572 - É chamado por D. Sebastião a morar na corte a fim de ser escutado sobre as reformas do reino

1576 - Já viúvo, deixa Lisboa para se fixar em Coimbra

1577 - Recebe um convite urgente do Papa Gregório XIII para se pronunciar sobre a possível reforma do calendário juliano, mas acaba por não conseguir cumprir a tarefa



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