Visite meu blog

Visite meu blog

Visualização do Blog

Quem sou eu

Minha foto
Rondonopolis, MATO GROSSO, Brazil
O mar para atravessar, o Universo para descobrir, as pirâmides para medir. Tudo existia menos a trigonometria. Construíram-se triângulos, mediram-se ângulos, fizeram-se cálculos e quem sonharia que à Lua se iria? Flor, fruto... Sucessão da natureza. Dois, quatro... Sucessão de Matemática. Quem gosta de Matemática tem de gostar da Natureza. Quem gosta da Natureza aprenderá a gostar da Matemática. O chá arrefece com o tempo, as plantas florescem com o tempo, a Matemática aprende-se com o tempo, a vida vive-se com o tempo. O que é que não é função do tempo? Eram formas tão perfeitas, que na Matemática já tinham uma equação. A sua beleza e harmonia levaram-nos do plano para o espaço e também ao nosso dia-a-dia. Quanto tempo gastou Arquimedes para desenhar retângulos cada vez de menor base, até chegar à área de uma curva? Arquimedes, Arquimedes, que paciência a tua. mas mostraste ao mundo que a Matemática ensina não a dizer: não sei mas a dizer: ainda não sei. Trigonometria, Álgebra e Geometria, tudo junto para complicar. Mas as relações são tão interessantes que até dá gosto estudar. Matemática para que serves? Para dar força e auto-confiança.

Pesquisas Educacionais

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A avaliação das aprendizagens em Matemática: Um olhar sobre o seu percurso

Leonor Santos - Universidade de Lisboa

Práticas avaliativas na sala de aula

Sabe-se que uma coisa é prescrever orientações, outra é aplicá-las na prática. De forma a respeitar o princípio da avaliação como parte integrante do processo de ensino e aprendizagem, e simultaneamente desenvolver uma avaliação cujo enfoque é o que hoje se entende por competência matemática, pode passar pela aplicação de uma multiplicidade de processos avaliativos.

As formas e instrumentos de avaliação que em seguida irei reportar são aqueles que de uma forma mais ou menos desenvolvida foram já objecto de estudo em Portugal. Embora analisados em separado, por facilidade de tratamento, tal não significa que não possam ser usados de forma articulada entre si.

A observação

A observação, a par com os testes escritos em tempo limitado, é uma das práticas de avaliação mais utilizadas pelos professores (APM, 1998). Contudo, em geral, a recolha de informação feita a partir da observação não é acompanhada de registos escritos, nem feita de forma sistemática e focada, sendo por vezes mesmo vista como impressionista (Graça, 1995; Martins, 1996; Rafael, 1998). Tal facto parece explicar porque os professores depositam pouca confiança nas informações recolhidas através da observação. Não lhe atribuem o mesmo estatuto que os dados recolhidos através dos testes escritos pelo que, embora influenciando a classificação de final de período, não constituem o seu elemento base (APM, 1998; Graça, 1995; Martins, 1996).

Uma possível razão para explicar porque, sendo reconhecida como uma forma por excelência para recolher certo tipo de informação, se faz sem registos e de forma pouco sistemática, tem a ver com as dificuldades inerentes a esta tarefa por parte do professor (Leal, 1992). Estas dificuldades revelam-se mesmo superiores às expectativas iniciais dos professores e verificam-se, tanto nos professores com maior experiência profissional, como nos professores mais jovens. (...) Os professores parecem privilegiar sobretudo aspectos relativos às atitudes dos alunos quando recorrem à observação. (...)

A interacção professor e aluno

A interacção, quer oral, quer escrita, é uma forma privilegiada de desenvolver uma prática avaliativa reguladora das aprendizagens. Ao acontecer de forma intencional no quotidiano do trabalho da sala de aula é uma forma inequívoca de avaliação como parte integrante do currículo (Pinto, 2003; Santos, 2003a). Quando se fala de interacção oral numa perspectiva reguladora, em geral, associamo-la ao questionamento ao longo do trabalho que o aluno está a desenvolver (Santos, 2002). (...) É sabido que para que este questionamento seja realmente regulador deve respeitar algumas condições, como seja não corrigir os erros, mas antes dar pistas, não validar mas antes questionar de forma a ser o próprio aluno a desenvolver um argumento convincente sobre o seu raciocínio (Santos, 2003a; 2004). (...)

A interacção escrita é outra forma de levar à prática uma avaliação ao serviço da regulação. Normalmente designada por feed-back ou escrita avaliativa, também pode ser de diversos tipos e deste modo ser mais ou menos adequada aos fins a que se destina (Gipps, 1999; Santos, 2003a; 2004). Estes comentários usualmente feitos sobre produções escritas dos alunos tomam como referência os critérios de avaliação definidos para cada tarefa. Estes podem entrar em linha de conta com aspectos tais como o conhecimento de estratégias e as competências de comunicação (Varandas,2000). (...)

Para que uma interacção reguladora seja eficaz passa muitas vezes pela identificação e interpretação dos erros cometidos. No que respeita, em particular, o estudo do conceito de número racional, Oliveira (1994) aponta algumas dificuldades sentidas, por parte dos alunos do 6º ano de escolaridade, nomeadamente, o não considerarem a divisão equitativa das figuras geométricas, isto é, não coordenarem a relação inversa entre o número em que o todo está dividido e o tamanho resultante de cada parte, a incompreensão da relação parte-todo e da parte-parte; o não reconhecimento da unidade; e o valor de posição quando se recorre ao uso de decimais. (...)

O teste em duas fases

Este instrumento de avaliação foi introduzido em Portugal no âmbito do projecto Mat789, coordenado por Paulo Abrantes (Abrantes et al., 1997). (...) A existência de uma segunda fase (...) permite que o aluno volte a reflectir sobre algumas das questões colocadas, contribuindo deste modo para que a avaliação seja ela própria um meio de aprendizagem (Leal, 1992, Menino, 2004). Por outras palavras, no desenvolvimento deste instrumento, percorre-se um processo de avaliação formativa retroactiva, dado o teste ser aplicado depois de uma sequência de ensino, mas igualmente cria um novo momento de aprendizagem onde a autonomia e a autoavaliação são incentivadas. Para além disso, os comentários que o professor faz na primeira produção do aluno de modo a contribuir para o trabalho a realizar na segunda fase, dada a sua natureza personalizada, promove uma maior aproximação entre aluno e professor (Martins et al., 2003).

Entre as dificuldades encontradas, é de assinalar a elaboração deste tipo de teste, que requer, dada as suas características, tarefas de natureza aberta, tais como questões exploratórias ou investigações menos disponíveis ao professor do que as de natureza mais fechada, e o tempo gasto na sua classificação, que foi considerado superior ao de dois testes de tipo tradicional (Leal, 1992). Acresce ainda a elaboração de comentários à primeira parte, indispensável neste instrumento, já anteriormente referidas, e a apropriação por parte dos alunos do modo de funcionamento deste instrumento legitimando a segunda fase (Leal, 1992; Menino, 2004; Nunes, 2005).

O relatório escrito

O relatório escrito tem passado nos últimos anos a ser um tipo de tarefa usualmente proposta aos alunos em Matemática, contrariando o que era esperado no passado fazer-se nesta disciplina. Acompanhado o surgimento de outro tipo de tarefas em Matemática, como seja por exemplo as investigações matemáticas, várias modalidades de relatório têm sido usadas: individual ou em grupo, feito na sala de aula ou fora desta (Santos et al., 2002). Não é possível dizer-se se é melhor ser fora ou dentro da aula, uma vez que é possível identificar potencialidades em ambas as situações. Na aula, permite ao aluno recorrer ao professor quando sente dificuldades e ser por este observado, dado nem sempre este trabalho escrito fazer jus à riqueza da exploração da tarefa realizada (Varandas, 2000) nem fornecer informação sobre a participação e o empenho dos alunos na realização da tarefa (Menino, 2004). Fora da aula, dá mais tempo para a sua realização (Leal, 1992).

A componente escrita do relatório embora possa constituir uma dificuldade adicional para os alunos é em simultâneo uma das suas grandes potencialidades uma vez que contribui para o desenvolvimento da comunicação escrita tantas vezes deixada para segundo plano em Matemática (Leal, 1992; Nunes, 2005). Outros aspectos que este instrumento igualmente privilegia relacionam-se com o conhecimento e compreensão de conceitos e processos, e o desenvolvimento de capacidades como a interpretação, a reflexão, a exploração de ideias matemáticas e o espírito crítico, e o sentido da responsabilidade pessoal e de grupo, a perseverança e a relação entre os alunos (Leal, 1992). O desenvolvimento de competências reflexivas e de auto-avaliação pode ser igualmente conseguido desde que seja dadas aos alunos indicações explícitas para a inclusão nos relatórios de elementos acerca da forma como desenvolveu o trabalho, das aprendizagens conseguidas e das dificuldades sentidas (Menino, 2004). (...)

O portefólio

(...) O desenvolvimento de um portefólio é um processo continuado no tempo. Normalmente acontece ao longo de todo um ano lectivo, requerendo, naturalmente, diversos momentos de aula para a realização de pontos de situação e de apoio por parte do

professor. Deste modo, a função reguladora deste instrumento de avaliação é talvez a sua principal potencialidade. O facto de poderem melhorar os produtos realizados das tarefas seleccionadas, decisão tomada pelos próprios alunos, e primeiras versões de reflexões, após os comentários do professor, certamente que favorecem a criação de A construção do portefólio constituiu um contexto rico para os alunos desenvolverem capacidades tais como a resolução de problemas, o raciocínio, a argumentação e a expressão escrita, a organização, a pesquisa, a autonomia e responsabilidade no processo de aprendizagem (Menino, 2004; Santos, 2005). Tendo uma forte componente reflexiva que acompanha todo o processo e os momentos de interacção professor e aluno que proporciona são os meios preferenciais que permitem ao aluno desenvolver a sua capacidade de auto-avaliação e competências reflexivas e metacognitivas (Menino, 2004; Santos, 2005). Deste modo, constitui um meio favorável para desenvolver uma postura de professor reflexivo (Martins, 2002; Santos, 2005) e pode influenciar as ideias dos alunos sobre o que significa saber e fazer matemática (Menino, 2004).

Mas certas dificuldades se levantam no desenvolvimento de um portefólio. Os alunos precisam de se envolverem com seriedade. É uma tarefa exigente onde se têm de expor. Para tal, é preciso, por um lado, que lhe reconheçam significado e, por outro, que haja um ambiente de confiança na relação professor/aluno. O acréscimo de trabalho para o aluno e para o professor é enorme. Não basta estudar na véspera de um momento de avaliação, é um trabalho continuado. É necessário dedicar aulas para este trabalho, criar momentos diversos de interacção professor e aluno, de acompanhar e apoiar os alunos (Santos, 2005). É igualmente necessário para o bom êxito desta tarefa uma certa predisposição do professor, nomeadamente em aceitar que o aluno possa deter um elevado grau de liberdade e decisão (Menino, 2004). Sendo o instrumento que se revelou ser aquele que levanta maiores dificuldades, pode levar certos professores a abandonar o seu uso a meio do ano (Menino, 2004) ou a não repetir a experiência nos anos seguintes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário